GMHP Grupo de Morfologia Histórica do Português
Coordenação: Prof. Dr. Mário Eduardo Viaro
Pressupostos
OGMHP,segundomodelopróprio,investigapalavraseseuscomponentes sob o ponto de vista diacrônico e morfológico. Parte de um pressuposto aceito por todo o grupo, a saber, o do tríplice significado que ocorre em línguas flexivas como o português. Paralelamente ao significado do radical e o dos demais elementos formativos (sobretudo afixos), há o significado da palavra como um todo (VIARO 2005). Desse modo, o GMHP se preocupa, sobretudo, com o significado dos afixos formativos e de outros morfemas gramaticais (morfemas flexionais, artigos, preposições, conjunções, pronomes). As ciências afins, com as quais dialoga mais frequentemente, sem perder seu foco, são a Semântica Histórica, que se preocupa com o significado da palavra como um todo e a Lexicologia Histórica, que se preocupa com o significado presente no radical. Por outro lado, sob a ótica da forma, o diálogo mais intenso ocorre com a Etimologia. Aspectos da Filologia em geral são particularmente importantes no tratamento dos dados e suas discussões não podem prescindir de estudos de Semântica Geral, de Lexicologia, da Estilística ou de outros estudos de caráter sincrônico da Linguística Geral, sobretudo quando envolve sincronias pretéritas (reconstruções de vocabulários de séculos passados). O problema dos interfixos e das vogais temáticas é também considerado muito importante para evitarmos a solução ad hoc da alomorfia, ainda que se tratem de uma situação fronteiriça entre o morfema pleno (com significado e significante) e o fonema.
Para tal, o GMHP desenvolveu uma metodologia específica, independente do da sintaxe, para a compreensão do fenômeno da polissemia afixal. Suspende-se, em nossas análises, momentaneamente, o conceito saussuriano de langue, à medida que se investigam diversos sistemas à procura de soluções específicas. Esses sistemas podem, portanto, pertencer à mesma língua (atraindo assim problemas de Dialetologia e Sociolinguística), de línguas afins (valendo-se da Filologia ou Linguística Românica) ou de outras línguas envolvidas (quer na difusão do étimo, quer no empréstimo da palavra ou dos morfemas gramaticais, valendo-se da História Geral). Não trabalhando com o português como langue, mas como resultado pancrônico de heranças lexicais, avalia-se, porém, em diversas sincronias, a gênese dos elementos estudados, bem como os sistemas de relações, as heranças e as analogias que explicam a polissemia atual dos formantes em cada momento. Dessa forma, é possível fazer uma revisão bastante considerável nos métodos diacrônicos (principalmente no que toca à reconstrução e seus graus de certeza), suas ferramentas e, com base na Historiografia, o momento adequado de sua implementação.
Com isso, o estudo diacrônico promove indiretamente uma reflexão sobre o método sincrônico, à medida que se questiona, em nosso método, sobretudo, a capacidade do falante nativo de fornecer impressões acertadas acerca de sua língua materna que condigam com a formação da estrutura estudada, bem como do sistema sincrônico atual. Para isso, prescinde-se completamente de regras dedutivas de formação de palavra – quer as tradicionais, quer as RFP – ou quaisquer outras suposições tácitas, como a de que palavras derivadas provenham das simples, cf. caso colação e colar grau, em que a primeira é mais antiga que a segunda: nesse caso 'simples' e 'derivado' é meramente terminológico e não tem referencialidade. Também a competência do falante para decidir questões de gramaticalidade é substituída, sem perda de objetividade, pela interpretação do evento, com base em dados, uma vez que, abandonando a langue, não seria possível que nenhum falante consiga ver o todo e, dessa forma decidir sobre questões de gramaticalidade ou composicionabilidade. Tal postura encontra seus paralelos em outras ciências, como, por exemplo, a taxonomia zoológica. No entanto, o paralelo é inexato, pois a linguística não dispõe, ainda, de um modelo à altura do modelo darwiniano, que transformou a biologia em ciência dedutiva, pulando assim, uma etapa importante para sua cientificidade.
Dessa forma, para obtermos respostas, preferiu-se seguir o trajeto indutivo (com suas raízes em Aristóteles, Bacon e Locke), em vez do dedutivo (com suas raízes em Platão, Descartes e Leibniz), ao mesmo tempo em que se reconhecem os avanços da lingüística cognitiva (com suas raízes nas neurociências, que contradizem Locke), os quais têm revelado importantes fatos na área da Aquisição de Linguagem, explicando, assim, com mais rigor a sincronia atual.
A preferência do GMHP pela sufixação se deve ao fato de ela ser – até agora – pouco compreendida diacronicamente, em comparação com a prefixação, apesar de ser um fenômeno de importância muito maior do que todos os demais recursos morfológicos do português.
Além disso, a derivação por sufixação geralmente se tem mostrado como o processo mais produtivo na formação de palavras do português, quer pela grande quantidade de sufixos existentes na língua portuguesa, quer pela flexibilidade que apresentam na sua distribuição e combinação com os demais sufixos, em parte, pela variedade semântica que adquirem no processo ao longo do tempo. Por outro lado, também o processo de sufixação envolvido na formação lexical é reflexo não só da semântica do sufixo desenvolvida em cada período e/ou em cada região, mas também do desgaste de uso sofrido pela partícula sufixal quando de alta freqüência e/ou produtividade. Daí, o estudo da produtividade dos sufixos, aliado à freqüência de uso e à observação de mudanças semânticas são partes fundamentais de um processo diacrônico. Somente assim, pode-se detectar quais significados do sufixo são mais antigos e formar "árvores genealógicas" dos sufixos, com base na sua semântica e em sua diacronia e o porquê da sua influência na formação de palavras similares.
Para tal, o GMHP desenvolveu uma metodologia específica, independente do da sintaxe, para a compreensão do fenômeno da polissemia afixal. Suspende-se, em nossas análises, momentaneamente, o conceito saussuriano de langue, à medida que se investigam diversos sistemas à procura de soluções específicas. Esses sistemas podem, portanto, pertencer à mesma língua (atraindo assim problemas de Dialetologia e Sociolinguística), de línguas afins (valendo-se da Filologia ou Linguística Românica) ou de outras línguas envolvidas (quer na difusão do étimo, quer no empréstimo da palavra ou dos morfemas gramaticais, valendo-se da História Geral). Não trabalhando com o português como langue, mas como resultado pancrônico de heranças lexicais, avalia-se, porém, em diversas sincronias, a gênese dos elementos estudados, bem como os sistemas de relações, as heranças e as analogias que explicam a polissemia atual dos formantes em cada momento. Dessa forma, é possível fazer uma revisão bastante considerável nos métodos diacrônicos (principalmente no que toca à reconstrução e seus graus de certeza), suas ferramentas e, com base na Historiografia, o momento adequado de sua implementação.
Com isso, o estudo diacrônico promove indiretamente uma reflexão sobre o método sincrônico, à medida que se questiona, em nosso método, sobretudo, a capacidade do falante nativo de fornecer impressões acertadas acerca de sua língua materna que condigam com a formação da estrutura estudada, bem como do sistema sincrônico atual. Para isso, prescinde-se completamente de regras dedutivas de formação de palavra – quer as tradicionais, quer as RFP – ou quaisquer outras suposições tácitas, como a de que palavras derivadas provenham das simples, cf. caso colação e colar grau, em que a primeira é mais antiga que a segunda: nesse caso 'simples' e 'derivado' é meramente terminológico e não tem referencialidade. Também a competência do falante para decidir questões de gramaticalidade é substituída, sem perda de objetividade, pela interpretação do evento, com base em dados, uma vez que, abandonando a langue, não seria possível que nenhum falante consiga ver o todo e, dessa forma decidir sobre questões de gramaticalidade ou composicionabilidade. Tal postura encontra seus paralelos em outras ciências, como, por exemplo, a taxonomia zoológica. No entanto, o paralelo é inexato, pois a linguística não dispõe, ainda, de um modelo à altura do modelo darwiniano, que transformou a biologia em ciência dedutiva, pulando assim, uma etapa importante para sua cientificidade.
Dessa forma, para obtermos respostas, preferiu-se seguir o trajeto indutivo (com suas raízes em Aristóteles, Bacon e Locke), em vez do dedutivo (com suas raízes em Platão, Descartes e Leibniz), ao mesmo tempo em que se reconhecem os avanços da lingüística cognitiva (com suas raízes nas neurociências, que contradizem Locke), os quais têm revelado importantes fatos na área da Aquisição de Linguagem, explicando, assim, com mais rigor a sincronia atual.
A preferência do GMHP pela sufixação se deve ao fato de ela ser – até agora – pouco compreendida diacronicamente, em comparação com a prefixação, apesar de ser um fenômeno de importância muito maior do que todos os demais recursos morfológicos do português.
Além disso, a derivação por sufixação geralmente se tem mostrado como o processo mais produtivo na formação de palavras do português, quer pela grande quantidade de sufixos existentes na língua portuguesa, quer pela flexibilidade que apresentam na sua distribuição e combinação com os demais sufixos, em parte, pela variedade semântica que adquirem no processo ao longo do tempo. Por outro lado, também o processo de sufixação envolvido na formação lexical é reflexo não só da semântica do sufixo desenvolvida em cada período e/ou em cada região, mas também do desgaste de uso sofrido pela partícula sufixal quando de alta freqüência e/ou produtividade. Daí, o estudo da produtividade dos sufixos, aliado à freqüência de uso e à observação de mudanças semânticas são partes fundamentais de um processo diacrônico. Somente assim, pode-se detectar quais significados do sufixo são mais antigos e formar "árvores genealógicas" dos sufixos, com base na sua semântica e em sua diacronia e o porquê da sua influência na formação de palavras similares.
Grupo de Morfologia Histórica do Português
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