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momento de discussão sobre os procedimentos aplicados no ensino. Enquanto os defensores da severidade garantem que seus preceitos, com base no proibido e no elitismo, são superiores à "permissividade" ocidental, as famílias chinesas não parecem mais dispostas a dar suporte ao discurso.
Ano passado, um livro escrito por uma professora da universidade de Yale, de origem chinesa, que louvava as medidas de repressão, foi recebido com muita polêmica e reações indignadas nos Estados Unidos, onde a mulher foi comparada a um "tirano". Na obra, intitulada Battle Hymn of the Tiger Mother (Hino de Batalha de uma Mãe-Tigre, numa tradução livre), Amy Chua enumerou as coisas que suas filhas nunca tiveram direito de fazer: festa do pijama com as colegas; atuar numa peça de teatro na escola; ter um companheiro de jogos; ver televisão; brincar no computador etc.
Na China, contudo, o livro não foi motivo de nenhum debate. Lá, os escolares passam longas horas na sala de aula e a autoridade parental é exercida com frequência de forma severa. Crianças com quatro anos, por exemplo, têm uma carga horária diária na escola de oito horas, podendo chegar a 12 horas para os mais velhos.
A intensidade, contudo, preocupa. Deputados reunidos para a sessão anual do Parlamento debateram nesta semana mudanças para aliviar a pressão em cima das crianças, explicou à AFP o professor e parlamentar Zhu Yongxin. "A educação chinesa poderia ser mais descontraída. A educação deve ser uma experiência feliz", afirmou durante a Assembleia Nacional Popular (ANP).
O debate ganhou força, recentemente, com o aparecimento, na internet, de um vídeo amador mostrando uma criança chinesa de quatro anos forçada pelos pais a correr na neve em Nova York, vestida apenas com calção e sapatos. A curta sequência filmada despertou reações indignadas entre internautas. Os pais justificaram o gesto extremo, alegando necessidade de fortalecer o caráter e a saúde do filho.
Porém, segundo o professor Zhu, os pais chineses desejam hoje para seus filhos uma educação "menos severa" - em parte devido à política de filho único, mas também graças à maior possibilidade de acesso a escolas ocidentais. "A China está mais aberta, em particular no que diz respeito à educação estrangeira e à aprendizagem, e as escolas estão mais inclinadas a introduzir uma cultura e um pensamento inovadores", destacou.
Nos últimos anos, a China registrou uma grande expansão dos estabelecimentos de ensino alternativos, adotando, principalmente, os princípios do polêmico pensador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), criador das escolas alternativas Waldorf - a primeira na China abriu as portas em 2004, e outras seis foram inauguradas no ano passado.
Nestas escolas, o ensino da leitura, da escrita e da matemática começa numa idade mais elevada que na maior parte dos estabelecimentos tradicionais, acompanhado de um reforço a outras disciplinas, como a música e o desenho.
Yu Shufen decidiu enviar sua filha de sete anos, Duo Duo, a uma escola Waldorf na periferia de Pequim, considerando que ela teria sofrido muita pressão no sistema estadual clássico. "Este (sistema chinês) pode ser muito intenso para as crianças; há sempre muitas lições e provas," declarou ela à AFP. "Seu desenvolvimento físico e mental sofre neste meio, pelo que nunca pensei matricular minha filha numa escola pública".
O setor da educação privada está em plena expansão na China, devendo chegar a um montante de US$ 80 bilhões este ano, contra US$ 60 bilhões em 2009, segundo o Bank of America Merrill Lynch.
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